Saiu correndo com os olhos fechados tentando segurar as lágrimas, e desejando ser cega ao invés de surda. Depois de alguns metros percebeu que não era personagem de um livro e achou melhor abrir os olhos, sentar e chorar. Ela já devia estar acostumada a isso, mas não estava. Amanda já tinha 14 anos e ainda não sabia lidar com garotos de olhar diferente como aquele. Porque quando as pessoas olham para as outras, elas simplesmente direcionam os olhos para as faces ou às vezes para os olhos da outra. Mas alguns garotos olhavam para ela como se vissem o mar pela primeira vez ou como se estivesse vendo uma apresentação do Cirque du Soleil. Como todas as meninas de sua idade, ela não se achava tão bonita. Neste dia ela estava usando os cabelos soltos e aquela farda horrível. Seria maravilhoso se ele ficasse só olhando mas ele tinha que vir falar com ela. Os dois amigos que estavam com ele ficaram incentivando-o até ele juntar coragem suficiente. Dava pra perceber pelas risadas e pelos pequenos empurrões. Quando ele veio caminhando em sua direção, ficou nervosa e com as mãos suando. Oi - começou ele - eu sei que a gente não se conhece mas gostaria muito de mudar essa situação. Meu nome é Gustavo. E estendeu a mão para ela. Amanda olhou para ele e fez um gesto tentando explicar que era surda. A cara de decepção dele foi de cortar o coração. Ele baixou a cabeça, deu as costas e andou em direção aos amigos que gargalharam dele. Foi a primeira vez que ela sentiu raiva de sua deficiência mas as próximas seriam muito piores. Ela ia conhecer o primeiro amor em breve.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
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